segunda-feira, 30 de julho de 2007

Quando tudo acabou...



Bate o coração, cansado de rolar. Procura um sitio fresco e aconchegante para repousar. De pés descalços, joelho machucado e um pouco corado, procura as palavras certas para desenhar no ar a vontade.
Espanta-se com o resultado, apressado para regressar. Sorri. Não esperava. A solução encontrada parece fluir para casa. O cheiro. O ar a esvoaçar...
A viagem corre mais rápida que a vontade, o tempo acelera em unidades astronómicas. aqueles 900 segundos transformam-se em suor enquanto o último beijo é dado, tímido, rápido e seguro. Está quente. Mas arrefece lá fora.
Ele e ela separam-se, vai ela. Ele arranca feliz da vida, sabendo que foi a primeira separação...existirá uma próxima!


Porque a vida já é a cores.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Pesado


Hoje sinto-me pesado, como que uma fateixa, ancorada no fundo que prende a flutuante vontade e não a deixa seguir.
A vontade de partir e deixar este lugar grita num silencio que sufoco sem esforço, sinto o abraço da indiferença e o calor da solidão.
Aconchego-me neste ambiente baço sinto-me nele.

Há dias que são assim. São eles que nos fazem sentir o outro lado da alegria, o outro lado da paixão. São eles que servem de régua, de escala milimétrica para medir e comparar. Ninguém é estritamente feliz.

Esta foto que hoje junto resulta de uma técnica chamada HDR. Esta particularmente foi obtida combinando através de uma algoritmos de pesquisa de zonas, 3 fotografias com EV's diferentes tiradas exactamente do mesmo ângulo.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Puls"ar"


A areia atravessava o alcatrão como um silencioso animal abandonado, escorraçado ao sabor do vento e da vontade. Cria tapetes suaves, custosos de atravessar para algumas viaturas que reflectiam os últimos raios de sol "azarados". O sorriso é maior que a expressão. A alma é pequena para tanto contentamento. Embala a Rihanna como se chovesse e o Sol inunda-nos cá dentro, entrando pelos olhos enquanto derrama os últimos rasgos de laranja-roxo pela atmosfera. Arrepia o ar, vibram os cabelos ao sabor do vento. A areia é atravessada sem problemas. À nossa frente apenas encontramos a liberdade de um momento, o toque de um beijo e o brilho do olhar!

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Vício


Sempre que ele lhe perguntava, ela respondia sem dizer. Ele ficava sem saber. Um dia, deixou de perguntar.

Contrário


A água corre a meu lado ziguezagueando entre as pedras, escorrendo cristalina, cinzelando esculturas durante milhares de anos para hoje, enquanto corro, apreciar esta vista que me aclara a mente.
Paro para recuperar o fôlego. Estou a descer o vale glaciar da Serra da estrela e sinto-me bem. Devia estar chateado por causa da brincadeira de mau gosto que me acabaram de fazer, mas nem isso me aborrece.
Ainda nem há 5 horas estava a dormir descansado e aconchegado na minha cama quente e confortável, agora encontro-me rodeado de neve e neblina, sozinho neste universo alternativo e sombrio.
Dos vários sítios que os meus amigos escolheram para parar, a nascente do Zêzere foi um deles e, neste caso, o último. No meio da brincadeira, das fotos mal tiradas e das lutas de neve desleais acabei por ficar fora do carro quando eles arrancaram em direcção a Manteigas. Podia esperar, zangar-me e ligar-lhes pra me virem buscar. Podia fazer pior e pensar a quem atribuir as culpas e nas consequências que iria criar quando nos juntássemos todos...mas não.
Aproveitei para passear um pouco, disfrutar de uma estrada sinuosa, de um caminho ancestral perdido na serra, local de passagem automóvel sem cantos para parar e em certos sítios,cruzar.
Que vista majestosa, que ar fresco e limpo. Ar lavado que limpa cá dentro. Desentope a alma.
Vejo o rio, ainda bébé que, do meu lado direito, se encolhe no fundo do vale, ganhando coragem para alimentar os viveiros de peixes que vai encontrar a juzante, mesmo à entrada da vila. O mesmo rio que em Constância (terra dos namorados,será?) apaixona-se, numa dança de ondas, de sabores e ideais diferentes, desmaterializa-se e funde-se transferindo para um renovado tejo, mais encorpado, mais decidido e completo toda a sua essência saber e alma, ganha por experiência ao passar das terras.
Cruzo-me com uma carroça que segue, empurrando uma mula cansada de viver, na direcção oposta. Vai uma pessoa sentada com um chicote velho na mão. Será que vai usá-lo? Será que é apenas um objecto de poder perante a besta? Existe uma troca de comprimentos, de olhares e uma colisão de mundos. Apercebo-me que tal personagem provavelmente nunca irá conhecer o mundo para além de alguns quilómetros à volta, nunca irá conseguir medir o mundo, mas apercebo-me também que existe um outro mundo, mais rotineiro e simples, mais pacífico e amistoso que eu nunca farei parte. Cada um de nós tem o seu papel.
Procuro em vão o veículo que me abandonou.Corro mais um pouco para palmilhar os 3km que me restam de natureza pura até Manteigas. Porquê Manteigas? Desde o "vamos às manteigas" (talvez dito pelo próprio Júlio César!!) até D. Sancho I que Manteigas, situada no fundo de um vale único em Portugal, apresenta características de uma, agora vila, aldeia mítica, com casas de pedra, neve nos telhados e um sorriso nos lábios. Um lugar esquecido no tempo.
Gosto do sítio e da casa onde vou passar os próximos 2 dias.
Vale a pena vir passar apenas estes dias únicos no ano à neve e ao Contrário do meu ser.

Pequenos, ou grandes?



Se tu já contaste os raios do sol
E até já reparaste no pequeno caracol
Ainda não reparaste nisto qu'eu te digo
Na tua atitude que me deixa ofendido
Quando, esticas a mão para me comprimentar
E eu sentir o gelo quando mudas o olhar
Para o lado, fico lixado, quando reparo
Que me olhas de cima para baixo, como se eu fosse um quadro
Esta capacidade, eu sei que também a tens
Mas eu reparo na mão linda, e tu só vês anéis
Onde tu vês notas eu só vejo papéis
Onde eu vejo a alma, tu só vês imagens de reis
Sinto aquele cheiro no ar, lembra-me a pele de alguém
que me fez viajar
O meu coração bateu pelo teu
Foi este pormenor que ninguém se apercebeu
Às vezes as coisas grandes só mostram vaidade
E é nas coisas pequenas que mora a verdade
E se queres saber como tenho razão
Repara no que o Melo diz quando canta o refrão

Refrão:
Quem é que já contou os raios de sol
Quem é que dá importância ao pequeno caracol
O que é que tu me dizes sobre a diferença entre as flores
Será que tu reparas nos pequenos pormenores
Quando as nuvens estão cinzentas, o sol não brilha
Será que tu reparas nesta grande maravilha, que é a vida

Vejo o sol, o mar, o vento a soprar
o moinho a girar, o mar, a maré a vazar
Mudar, começar a subir
Observa como é lindo ver uma onda a partir
Sinto energia, amor, quando piso o chão
Tu bem tentas, tu bem olhas, mas não vês a razão
E eu só pergunto então o que se passa contigo
Abre o teu coração, tem uma conversa comigo
Porque é que não reparas nos pequenos pormenores
Tira as palas, gira os olhos, observa a teu redor
Visão abstracta que a nossa óptica foca
É em busca da paka que toda a gente se maltrata
Nem que seja pelas costas, igoístas, invejosos
Fazem-nos caras docéis(tanks P), mas eu só tenho amor pra dar
Nunca pus em questão, porque pra mim cada ser há-de ser
sempre um irmão
No coração trago paz, trago amor, afecto
Bem vindo à nossa casa Melo, Mundo Complexo

Hoje quando saí de casa, reparei
Naquela árvore diferente, mudou de cor de repente, não sei
Da última vez tava feia como a dor,
Mas hoje transmite aquilo que falta um dia o calor
Aquela sensação de segurança
Que me faz voltar aos tempos em que eu era uma criança
Um atento, observador de todos os pormenores
Constante imitador do que faziam os maiores
Hoje já sou maior mas mantenho-me atento
Às cores, às formas, ao mar e à direcção do vento
E eu lamento não ter captado aquela cena
Objectiva da minha mente por vezes é demasiado pequena
Para tantas telas pintadas pela mãe natureza
É o calor no asfalto, a brisa do clima ameno
São imagens escondidas que me trazem uma certeza
Perante tanta beleza sinto-me feio e pequeno

de Mundo Complexo - Pequenos Pormenores.

domingo, 8 de julho de 2007

Profundo



Estou a mover-me gentilmente para a frente, observando um mundo selvagem e bonito por baixo de mim.
Flutuo em silêncio, e quebro-o com o som do meu respirar.
Por cima de mim, não há nada a não ser uma luz difusa, o sítio de onde venho e para onde vou, assim que terminar por aqui.
Estou a mergulhar.
Sou um mergulhador.
Vou mais fundo por entre as rochas enrugadas e as sombras mais escuras de algas, em direcção a um azul profundo onde um cardume de peixes prateados aguarda-me.
À medida que vou nadando pela água, sopro bolhas de ar que nascem em mim e dançam como alforrecas enquanto sobem, fazendo cocegas nas ondas que vivem na superfície.
Verifico o meu ar. Não tenho tanto tempo como o que preciso para ver tudo, mas é isso que o torna tão especial.

Texto adaptado e extraído deste filme.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

O rápido


O sol já se apagou e ninguém ligou. A luz do candeeiro da rua espreita timidamente o quarto onde me deito, apagando-se por segundos com uma cadência que me irrita profundamente.
Suspiro profundamente tentado a fazer uma das milhares de coisas que me passaram pela cabeça para resolver o candeeiro. Estou farta de me sentir sozinha e farta de procurar desesperadamente, quase doentiamente, algo para me distrair e quase que me rio, risinhos nervosos, porque, passadas 8 horas ainda estou deitada, sem comer ou dormir, praticamente sem me mexer sequer à espera da chamada.
Levanto-me, visto-me e saio para a rua. Contorno o quarteirão mergulhando num maralhal de gente e de pressas fim-de-dia...ele perdeu a oportunidade. Não lhe responderei mais.
Na estação, quando evito respirar (como se fosse possível) para não sentir o cheiro imundo do que me rodeia, passa o rápido. A ventania criada pelo comboio leva-me os sonhos e a alma. Sinto-me vazia.
Ele aparece e ataca-me com um “Olá”.
Acabamos a conversa aos gritos e comigo a pensar, porque é que vim? Porque é que me preocupo? Vou desligar o telemóvel, vou começar por fingir que ele não existe e que isto que sinto, esta dor que que mantém acordada vai passar. Pode ser que seja um bom começo. Pode ser que consiga adormecer. Acredito que talvez consiga. Daqui a pouco verei, agora vou entrar na composição e procurar amizade noutro lado.

Este merecia. Welcome to Portugal!


Em cada 100 euros que o patrão paga pela minha força de trabalho, o Estado, e muito bem, tira-me 20 euros para o IRS e 11 euros para a Segurança Social.
O meu patrão, por cada 100 euros que paga pela minha força de trabalho, é obrigado a dar ao Estado, e muito bem, mais 23,75 euros para a Segurança Social.
E por cada 100 euros de riqueza que eu produzo, o Estado, e muito bem, retira ao meu patrão outros 33 euros.
Cada vez que eu, no supermercado, gasto os 100 euros que o meu patrão pagou, o Estado, e muito bem, fica com 21 euros para si.

Em resumo:
Quando ganho 100 euros, o Estado fica quase com 55.
Quando gasto 100 euros, o Estado, no mínimo, cobra 21.
Quando lucro 100 euros, o Estado enriquece 33.
Quando compro um carro, uma casa, herdo um quadro, registo os meus negócios ou peço uma certidão, o Estado, e muito bem, fica com quase metade das verbas envolvidas no caso.

Eu pago e acho muito bem, portanto exijo: um sistema de ensino que garanta cultura, civismo e futuro emprego para os meus filhos.
Serviços de saúde exemplares. Um hospital bem equipado a menos de 20 km da minha casa.

Estradas largas, sem buracos e bem sinalizadas em todo o país.
Auto-estradas sem portagens. Pontes que não caiam.
Tribunais com capacidade para decidir processos em menos de um
ano.

Uma máquina fiscal que cobre igualitariamente os impostos.
Eu pago, e por isso quero ter, quando lá chegar, a reforma garantida e jardins públicos e espaços verdes bem tratados e seguros.
Polícia eficiente e equipada. Os monumentos do meu País bem conservados e abertos ao público, uma orquestra sinfónica. Filmes criados em Portugal. E, no mínimo, que não haja um único caso de fome e miséria nesta terra.

Na pior das hipóteses, cada 300 euros em circulação em Portugal garantem ao Estado 100 euros de receita.
Portanto, Sr. Primeiro-ministro, governe-se com o dinheirinho que lhe dou porque eu quero e tenho direito a tudo isto.

Um português contribuinte .

Meus amigos... Este é seguramente um texto que todos temos a
obrigação de fazer passar..

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Perdido no tempo


Sentada na areia ainda quente, assiste passivamente ao ocaso solar que a envolve num grande abraço. Sente o vazio de estar sozinha numa praia que todo o dia solarengo se enche de cor e banzé, de crianças e de pais, de areia no ar e de brincadeiras de na água. Água. Ouve as braçadas dele quando se afasta nadando,nu.
Aconchega-se noutra posição, senta-se abraçando as pernas frias,de joelhos juntos, que apoiam o queixo.Imagina que os braços que lhe tocam são os dele.
Observa-o misturando-se com a paisagem quando mergulha e se funde com o oceano desejando ser ela o oceano...
A praia que ela tão bem conhece, o sol que já se foi, o verão que acabou, o branco que espreita no mergulho que ele deu e a saudade do que não conhece que rói e sensação de impotência perante a(s) outra(s). será?
Mal sabia ela...e mal sabia ele.