sexta-feira, 4 de maio de 2007

Dar um mergulho no mar...

De pálpebras fechadas sinto o quente do sol nos olhos. Aperto mais os olhos, como se conseguisse aliviar a dor...estou deitado há mais tempo do me lembro com a cara virada para o sol.
Já não sinto água escorrida no corpo, sinto apenas zonas do meu peito e pernas mais quentes que o resto, talvez por aí se ter junto mais sal, ou por outro motivo desconhecido. não me preocupa.
Oiço imensos sons à minha volta, distintos, ora crianças a brincar, a rir e a gritar, a chamarem ou ainda uma a chorar, ora pessoas a falar, a contar histórias de outro tempo, ou a chamar alguém longe ora o som crepitante de pés apressados em areia quente, todos como que a tentarem abafar o único som natural do local, o rebater das ondas, aquele som ininterrupto que dia e noite me toca na alma.

Sento-me com a cabeça baixa e tento abrir lentamente os olhos. Arde. Apenas vislumbro uns riscos de luz multicolorida, como labaredas que me tocam os olhos. Passado dois ou três segundos já consigo aperceber-me de manchas de cor mais definidas a dançar de um lado para o outro. Começo a ouvir umas pancadas secas intervaladas e alternadas bem perto de mim. Finalmente repisco repetidamente os olhos e consigo levantar a cabeça e ver novamente do que me rodeia.

Vejo uma praia com não mais de 200 metros de largura, escavada entre as rochas calcárias amareladas como o areão, vejo o mar que bate na areia com uma ondulação a requebrar-se pachorenta de um azul cristalino, permitindo ver os peixes através delas.
Levanto-me, espreguiço-me e tocas-me com os pés nos tornozelos.
-"Onde vais?"
-"vou voltar..."
Começo a andar em direcção ao mar, descendo a praia, desviando de algumas toalhas com gente "adormecida" ao sol, alguns topless atrevidos ou tímidos e uma criança perdida de riso com o que me parece ser uma avó "babada".
ESTALO! Percorre da planta do pé, passando pelos gémeos, pelo fundo das costas, eriça os pelos todos até á base do crânio, descendo novamente pelos braços até á ponta dos dedos. Quando toco na areia molhada...é bom este arrepio. Espero um pouco apreciando a diferença de temperatura do meu corpo, toda esta paisagem e aquilo pelo que anseio.
Uma onda rebenta esticando-se toda até me tocar os dedos, regressando novamente numa massa de areia e água dando origem a outra e outra que a imitam. É assim a vida. É assim os sonhos.
Apercebo-me do bate seco terminar e sinto algo tocar-me o pé. Devolvo a bola a um amigo meu que me pergunta se vamos à praia do lado.

Inspiro fundo, dou dois passos e teleporto-me para outra dimensão.
Neste novo mundo deixa de haver gravidade, o ar passa a ter uma viscosidade 800 vezes maior, o som deixa de ser ruidoso e passa a ser ora metálico, ora líquido, as pessoas deixam de precisar de andar ou correr, passam apenas a voar e a cada bater de asas, existem toda uma panóplia de coisas novas a descobrir...é um mundo sereno e difuso, calmo e agreste, diferente mas estranhamente apetecível. Abro os olhos e apercebo-me dos raios de sol dançantes que atravessam a superfície em jorro e iluminam rochas que salpicadamente cobrem o fundo... toco em algumas para lhes sentir o frio e vou nadando junto ao fundo enquanto o fôlego e a vontade de me manter lá permitir...exalo as últimas golfadas de ar à medida que vou subindo.
Sinto o corpo refrescado, sinto a alma limpa, os pulmões novos, o coração a bombear com garra e as tormentas esquecidas. Sinto outro eu, estou no meu meio, estou em "casa". Volto a encher os pulmões. Uma gaivota passa a voar por cima de mim cortando o sol e é nesse preciso momento que tudo faz sentido! a vida faz sentido, existir faz sentido. Adoro a vida e a liberdade que ela nos dá! Vibro cada minuto e arrepia-me cada instante! Estico o meu corpo até chegar ao tamanho da minha alma... mas é tarde... estou a milhas dali já! estou a voar, a ver a praia pequena,a sentir o vento, a olhar em tudo em redor e a aperceber-me do quão pequenas são as nossas preocupações. Olho o mar e mergulho qual mergulhão, atiro-me de feição às marés e nado qual golfinho. Estico-me mais um pouco e volto a mim e à praia com menos de 200 metros vendo-te acenar ao longe, de pé, com a pele bronzeada um olho ainda fechado e um sorriso nos lábios.... regresso a nadar para a praia, uma distância que não consigo decidir se gostava que fosse maior ou menor...e encontro-me contigo. Adoro sentir o quente da tua pele contra a minha molhada quando te beijo. Arrepias-te ao toque e apertas-me mais. Uma onda molha-te as pernas quentes e apertas o beijo, abraço-te mais e sinto-te a saborear o sal da minha língua..

Tal como na vida, o mar sem sal é apenas um rio que corre com destino certo.
O Amor é o sal da vida.Obrigado.

2 comentários:

Unknown disse...

uma estória sobre encontros e desencontros... muito bonita, só é pena o final... e quem a matou não foi o rapaz suado, foi o informático do smart, lol!

ReDFoX disse...

=')