quinta-feira, 3 de maio de 2007

Pássaro que voa alto...

Sentado no sofá, leio um livro que me intrigou durante semanas até finamente comprá-lo e começar a lê-lo há uma mão cheia de horas. Está a entusiasmar-me particularmente porque o filme foi fabuloso. Respiro pausadamente entre cada folha tentando não me desconcentrar quando a leitura é interrompida. Ocasionalmente oiço outro folhear, alheio a mim ou à minha leitura.
É quase noite e as cores da rua escurecem à medida que se vão tornando de alaranjados lilás para azuis acinzentados.
Mais uma hora passa e o ar arrefece, arrepia-me a aragem que se cria quando te levantas e vais buscar um cobertor. Ao voltares deténs-te. O pássaro da capa do livro que trazes na mão parece fazer um esgar pela força com que o apertas e o cobertor laranja escorrega lentamente por si só ficando cada vez mais pingado...
-"Temos de falar." Dizes tu tentando disfarçar a gravidade da frase.
Levanto-me, poiso o livro na mesa que se encontra junto à janela. Olho lá pra fora, tentando aperceber-me o quanto escurece num segundo e fracassando. Olho de novo para ti, com o cobertor quase no chão e chamo-te para junto de mim com um gesto e um sorriso, o mais acolhedor que consigo. Abraço-te ao chegares a mim, ficando o meu queixo a brincar com os teus cabelos escuros. Fecho os olhos e respondo-te:
-"Eu sinto o mesmo."
Acto contínuo, com os braços à volta dos teus ombros aperto com gentileza e alguma firmeza, como se este toque te demonstrasse a minha convcição.
Ainda de olhos fechados vejo-te sorrires, voltares-te para mim e beijares-me, os meus músculos contraem-se, o meu cérebro prepara-se para o beijo, todas as minhas terminações nervosas que te tocam sentem um choque e...
-"Não é nada disso tonto, temos de falar sobre o jantar, sempre queres sair?".
Caio em mim e arrependo-me do meu pensamento estúpido. Revejo todas as minhas acções tentando discernir até que ponto foram reais para ti....
Viras-te para mim, com um sorriso maroto que não vejo, fechado nos meus pensamentos e tentando disfarçar o que pensei, e insistes:
"-Temos de saber como vamos fazer, porque se te beijo agora, provavelmente não iremos sair!"
Cai-me tudo ao chão, interrompo o pensamento de começar a gracejar sobre sentir o mesmo "aperto" no estômago que tu para tentar a todo o custo disfarçar a frase dita e....impacto! Sinto os teus lábios humedecidos a tocarem os meus, a humedecerem os meus...
O sol que já se pôs deixando um rasto de nuvens cada vez mais cinzentas no céu, os candeeiros de iluminação pública que se acendem, largando bolas amarelas à sua volta, o distante e distinto som televisivo do apartamento de cima que indica o início do telejornal, o toque da tua pele nua contra o meu peito, o arrepio do beijo, há tanto tempo desejado, tanto tempo imaginado mas único e volátil como o primeiro. Quero falar, perguntar porquê, saber o que te passou pela cabeça, quero estar calado, quero saber isso sentindo, quero abraçar-te, quero devolver-te estas carícias a triplicar, quero querer-te mais, quero-te... que sensação transcendente esta que me enche o corpo quando me tocas, quando me beijas, quando queres. Termina o beijo.
-"Abusei?".
-"Não tenho palavras...". Sorris.
-"Sempre queres jantar fora?".
-"Quero estar contigo"....
...Arrepia-me a aragem que se cria quando te levantas e vais buscar um cobertor. Apercebo-me então que página e meia do que tenho antes do meu dedo "marcador" não foi lida. Vejo-te sentares novamente a ler, tapada com um cobertor de pelúcia laranja e reparo que os teus lábios brilham quando te aconchegas com o livro no colo. Sacudo a cabeça, procuro no texto as primeiras palavras da página, tentando esquecer a partida que a minha mente me pregou e ao olhar para ti de relance, aconchegada, feliz e concentrada, reparo que o pássaro da capa parece rir-se...ganho coragem e:
-"Temos de falar"
...

2 comentários:

Anónimo disse...

O que dizer... desde a 1ª vez que vi o que escreves, e como escreves, como sentes as palavras, como as tornas reais e tão palpáveis( Tal como fizes-te aqui)
Acho que podes continuar esta texto que agora tão pequenino, poderá tornar-se numa grande história. Acredita!!!
Continua a escrever assim...
:)

Anónimo disse...

fogo... bem nem imaginas a concentracao que isto desperou em mim... quem me dera trabalhar assim:p parabens!!! se escreves assim tens todo o meu apoio para continuar bj